Projetos de Pesquisa Victor Rosa

2017 – Atual

Espetáculos de realidade na literatura contemporânea

Por meio do binômio espetáculo e realidade, a pesquisa pretende mobilizar uma série de debates centrais sobre o contemporâneo (em diálogo com a filosofia de Jacques Rancière, a psicanálise e a teoria crítica, por meio de críticos como Hal Foster, Georges Didi-Huberman, Raul Antelo e Emanuele Coccia) para reler um recorte da literatura produzida a partir dos anos 1980. O mote proposto privilegia o que foi conceituado por Josefina Ludmer como ?literaturas pós-autônomas?, cujas relações entre ficção e realidade, bem como conceitos menos convencionais sobre o relato contemporâneo e suas posições heterodoxas frente à noção de mercadoria, devem ser objeto de debate e análise. Ao trazer à cena autores, sobretudo, radicais, experimentais e de difícil classificação, como César Aira, Mario Levrero, Pablo Katchadjian, João Gilberto Noll, Veronica Stigger e Ricardo Lísias, entre outros, a pesquisa pretende se interrogar também sobre o que une e o que separa projetos literários tão contemporâneos e, por isso mesmo, tão intempestivos. Iniciada em um período de pós-doutorado na Pós-Graduação em Literatura da UFMG sob supervisão de Wander Melo Miranda, por meio do programa PDJ do CNPq, a pesquisa pretende agora se ampliar e dessa maneira envolver também discentes a nível de graduação, por meio dos programas de iniciação científica e de trabalhos de conclusão de curso, e também, mais em breve, pesquisadores a nível de mestrado.

2021 – Atual

 

Nenhum Brasil existe: leituras da cultura brasileira na modernidade

Da obra de Machado de Assis à estética contemporânea, esta pesquisa procura investigar os impasses e paradoxos da modernidade na cultura brasileira, em especial na literatura, tendo como ponto de partida o célebre poema de Drummond, "Hino nacional", de Brejo das almas, em que o poeta termina por enunciar a própria inexistência do Brasil. Valendo-se tanto das discussões modernistas, que propõem uma releitura do país e da cultura brasileira em retrospectiva e ao mesmo tempo uma prospecção futura, quanto também de teóricos da modernidade, como Walter Benjamin, Antoine Compagnon, Bruno Latour, Boris Groys, Beatriz Sarlo, entre outros, a presente pesquisa propõe então um movimento duplo: revisitar o cânone de maneira a reler certas obras célebres à luz do debate crítico contemporâneo, e também investigar novos arquivos, na maioria das vezes recalcados ou marginalizados em nome de certos ideais historiográficos hegemônicos, na tentativa de compreender de modo mais complexo os impasses e os paradoxos sobre as variadas formas de imaginação do moderno no Brasil.

2022 – Atual

LAMA, GELÉIA, ÁGUA-VIVA: a inconstância da forma na literatura brasileira

Tendo como mote uma carta de Mário de Andrade enviada a Drummond em 1924, na qual define o Brasil como um "monstro mole e indeciso", o presente projeto almeja compreender, a partir de um debate crítico-estético travado inicialmente no interior do modernismo brasileiro, a sobrevivência de uma "forma inconstante" em diferentes experiências da nossa cultura ao longo do século XX, em especial na literatura. Das constantes transformações que Raul Bopp realizou em Cobra Norato - ao longo de nove edições - até a recorrência dos materiais dissolventes usados nos objetos escultóricos de Nuno Ramos, como a vaselina e o vidro derretido, passando ainda pela Água viva de Clarice Lispector e pela definição da arte brasileira como uma "geleia geral", haveria em comum entre estas formas estéticas a sua inconstância, uma potência metamórfica e certa moleza. Em ângulo semelhante, o projeto se vale ainda das discussões sobre o "perspectivismo ameríndio" para analisar a "poesia flutuante" de Leonardo Fróes, cuja sensibilidade vegetal, em sintonia com as teorias mais recentes sobre o tema, se acentua a partir dos anos 1970 com a mudança do poeta para um sítio isolado na região de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Pelo olhar de Sérgio Buarque de Holanda e Flora Sussekind, entre outros intérpretes da cultura brasileira, o romance modernista reabre ainda novas condições para a narrativa de viagem no Brasil, marcada notadamente pelas noções de improviso, instabilidade e imprevidência. Ou seja, a sobrevivência do relato de viagem na prosa brasileira confirmaria, de outra maneira, a sua própria atração pela inconstância. E finalmente, em rumo distinto ao problema, pretende-se também investigar como o ideal construtivista parece se consolidar no Brasil, paradoxalmente, com inclinação ao informe, infiltrado por exemplo em certas passagens da obra de João Cabral de Melo Neto em que o rio e a lama, sobretudo a lama, inundam a dureza e a secura da terra árida. Em suma, a partir de tais percursos, e entendendo que a inconstância é uma constante não apenas da equação selvagem, tal qual a hipótese de Eduardo Viveiros de Castro, mas também das mais diferentes formas e experiências culturais brasileiras modernas, o presente projeto arrola a tese de que tal moleza, inconstância e monstruosidade se vinculam profundamente, como nesses casos, com diferentes maneiras de imaginar o Brasil.