Projeto de Pesquisa Emílio Maciel

2014 – Atual

Literatura ao quadrado: Proust e a tradição romanesca (antes e depois)

A partir de uma leitura comparativa de 3 dos mais célebres romances brasileiros ? Dom Casmurro(1899), São Bernardo(1934) e Grande sertão:veredas (1956) ?, o projeto busca analisar as tramas de ressonâncias, ecos e alusões entre essas obras, tendo como eixo a instabilidade enunciativa de seus respectivos narradores em primeira pessoa, às voltas com objetos femininos que mantém-se resolutamente infensos à síntese totalizante. Ao mesmo tempo, ao destacar o modo como um cada desses livros tematiza e dramatiza os vínculos entre poder, linguagem e representação, tendo como linha de fuga, em última análise, a discreta mas irreversível corrosão da autoridade de seus narradores masculinos, essa pesquisa busca colocar em destaque certas estruturas de longa duração entrelaçando essas 3 obras-primas, num movimento que, se de um lado, parece sugerir quase um efeito de ?transmissão de tocha? unindo os dois extremos do arco, serve também para dar destaque às distintas soluções formais de cada romancista, que ora aparecem como variantes anagramáticas de uma só matriz, ora dão a impressão de rasurar com violência os périplos um do outro. Entender algumas das múltiplas implicações dessa tessitura de ecos é o que nos propomos a fazer no presente projeto.

2017 – Atual

Anagramas do apagamento: narradores do romance brasileiro moderno

A partir de uma série de leituras comparativas de Proust e outros autores, num arco que cobre de La Rochefoucauld a Stendhal, de Baudelaire a Flaubert, prolongando-se ainda até nomes contemporâneos como Coetzee, Eustache, inter alia, o projeto se propõe a discutir a fundo a mecânica dos procedimentos intertextuais que compõem os andaimes da trama de "Em busca do tempo perdido", com ênfase no modo como, ao incorporar e tensionar todo o arsenal de artifícios da tradição literária, a Recherche convida seus analistas a uma leitura em múltiplos níveis, convertendo a própria arquitetura narrativa em uma espécie de crítica e teorização literária por via transversa. Ao mesmo tempo, a partir do efeito de verticalização provocado em cada um dos cotejos ? num raio que cobre praticamente toda a tradição da literatura francesa, e não só ?, pretende-se demonstrar como, por meio da incorporação e desautomatização de um vasto arsenal de estilemas, o texto de Proust torna-se também um lócus privilegiado para acompanhar o jogo de inscrições e apagamentos que constituem a dinâmica da Memória Cultural, operando portanto não apenas como um arquivo de longo prazo de toda a produção literária dos 5 últimos séculos como também, em seus momentos mais radicais e vertiginosos, apontando para uma possível zona de indiscernibilidade entre arte e vida. De certo modo, é um território no qual, como pretende demonstrar esta pesquisa, longe de ser uma simples duplicata de uma realidade a priori, a literatura se dá a ver antes como um conjunto de lentes incumbido de dar foco e inteligibilidade à matéria bruta da existência, que se revela assim como inapelável ainda que por vezes quase imperceptivelmente contagiada pela marca d´água deixada pela experiência estética