2018 – 2021
O mercador de Veneza e a memória da Shoah: adaptações da peça de Shakespeare na contemporaneidade
O presente projeto tenciona refletir sobre representações cênicas e adaptações literárias do Mercador de Veneza na contemporaneidade. Considera Mercador, que data do final do século XVI, a obra de Shakespeare que mais sucumbiu ao peso da história. Assim, a pesquisa proposta pretende focalizar a figura de Shylock, atentando para a proeminência que a Shoah adquiriu nos estudos da memória. Uma das representações mais conhecidas do estereótipo do judeu, Shylock é também ?figura de memória?, no sentido que Jan Assmann deu ao termo para designar aquelas ideias ?sensualizadas? que podem ser representadas por eventos, lugares ou pessoas. As ?figuras de memória? são habitadas por significados específicos e se tornam um componente representativo da histórica narrativa de um grupo. Como afirma Dennis Kennedy, os eventos da segunda guerra transformaram completamente a leitura da peça shakespeariana: ?desde 1945, estamos em posse de um novo texto da peça, um que está relacionado ao texto anterior, mas que é também significativamente diferente dele?. Tendo isso em mente, o projeto buscará pensar sobre o lugar que a Shoah ocupa nas montagens e adaptações da obra de Shakespeare a partir da segunda década do século XX. Em montagens contemporâneas de Mercador, como nas de George Tabori e Tibor Egervari, os eventos da guerra aparecem imbricados à obra de Shakespeare, oferecendo um viés para o ?testemunho? da catástrofe. O romance de Howard Jacobson, Shylock is My Name, e o de Philip Roth, Operation Shylock, também trazem a peça para a contemporaneidade, possibilitando uma reflexão sobre memória, trauma e antissemitismo.